Um estranho silêncio caiu no vale quando o conto acabou. Se é verdade que todos sabiam que aquele instante um dia haveria de chegar, também é verdade que guardavam esse pensamento no lugar mais secreto do espírito, algures entre os medos e os sonhos impossíveis, e raramente o visitavam. Admirou-os que a luz continuasse com a sua tonalidade de sempre quando o padre disse as últimas palavras do funeral. Houve quem visse no verde dos ulmeiros um certo escurecimento e um tom de cobre nas nuvens negras que há muito se aproximavam de oeste, mas eram coisas sem importância perante a certeza de o mundo continuar a existir depois da última frase do conto. Estavam todos na encosta sobranceira às casas distantes. No conto, era ali o cemitério e ali fora a enterrar o conde de Paranhos.
Durante alguns instantes olharam atónitos à sua volta, observaram as próprias mãos, faziam com a ponta dos sapatos riscos profundos na terra, tocavam as pedras das campas e voltavam a olhar as casas e as montanhas que circundavam o vale. Quando começaram a descer a encosta ainda ninguém dissera uma só palavra. Caminhavam devagar, de quando em quando olhavam uns para os outros, faziam-no com olhares breves, como se não soubessem o que queriam ver, ou necessitassem de entender o que viam. O ruído dos passos elevou-se no ar quando as doze personagens começaram a pisar as pedras da única rua da aldeia, a princípio com o ritmo lento com que tinham descido a encosta, até um ou outro se ir imobilizando e todos parecerem, por fim, estátuas bizarras vestidas de negro a quem o vento fustigava os cabelos, os vestidos e as abas dos casacos. Ficaram assim durante alguns minutos, e se não fossem os pássaros que cruzavam o céu e o cão que por duas vezes atravessou a rua dir-se-ia que a morte lhes tinha chegado disfarçada de vento glacial e em breve todos tombariam feitos em pedaços na terra.
Foi o homem que seguira à frente que falou: tirou o relógio do bolso do colete, olhou-o demoradamente e disse– Faltam cinco minutos para as sete.
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